Projeto apoiado por fundo municipal promove equoterapia gratuita para crianças Detalhes
Já imaginou a sensação de uma pessoa com deficiência, que não consegue andar, sair de uma cadeira de rodas, montar em um cavalo e conseguir se equilibrar e ter coordenação motora? Com certeza é um momento de independência e liberdade. E isso é possível graças a equoterapia, técnica que utiliza dos cavalos para ajudar na reabilitação desses pacientes, complementando os outros tipos de tratamentos.
Em Salvador, a técnica é utilizada desde 1993 pela Associação Baiana de Equoterapia (Abae), que oferece o serviço gratuito para a população de Salvador e do interior. A instituição é uma das beneficiadas pelos recursos do Imposto de Renda, que são direcionadas para o Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (FMDCA), órgão vinculado à Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres Infância e Juventude (SPMJ), e repassados para ajudar e apoiar diversos projetos sociais realizados na cidade.
A iniciativa é realizada em parceria com a Polícia Militar na Bahia, na sede do Esquadrão de Polícia Montada, em Itapuã, e com o 19° Batalhão de Caçadores do Exército, no Cabula. Através desses recursos, a associação tem a possibilidade de investir em equipamentos para as crianças e seus familiares, como parques adaptados, brinquedos, cadeiras, materiais de limpezas, além da manutenção do espaço.
As unidades da Abae contam com pistas de equitação, selarias, salas administrativas e casa de reuniões. Com uma equipe multidisciplinar formada por fisioterapeutas, psicólogos, assistentes sociais e pedagogos, atualmente a associação atende 131 crianças a partir de dois anos, portadoras de deficiências como microcefalia, síndrome de Down, paralisia cerebral, autismo e aneurisma, inclusive famílias do interior da Bahia como Irecê, Senhor do Bonfim, São Francisco do Conde, Castro Alves e Vitória da Conquista. A lista de espera para receber o tratamento já chega a 3 mil pessoas.
Tratamento – Para muitos, andar a cavalo é uma atividade de lazer, que relaxa e conecta a natureza. Mas, para pessoas com algum tipo de deficiência, seja física, psicológica ou cognitiva, estar em cima de um cavalo é sinônimo de evolução e desenvolvimento. Esses animais são grandes aliados e responsáveis por transformarem e até salvarem vidas.
Ao pé da letra, a prática da equoterapia, ou seja, o andar por meio do cavalo, estimula a mente e o corpo dos pacientes a partir dos movimentos ritmados. Esses movimentos variam com a necessidade específica de cada criança, podendo ser realizados nos eixos para cima, para baixo, para um lado e para o outro e para frente e para trás. Todos prescritos pela equipe multidisciplinar. As sessões acontecem uma vez por semana com duração média de até vinte minutos.
A presidente da Abae, Maria Cristina Guimarães, explica os efeitos desse tipo de tratamento. “O movimento cadenciado do cavalo vai dando os ajustes tônicos necessários. Permite o alinhamento, melhora a postura, fortalece a musculatura, alonga os tendões de Aquiles, além de inibir padrões patológicos. É uma gama de estímulos que provocam uma série de reações no corpo. O paciente é levado a contrair e relaxar as pernas e o tronco, melhorando suas percepções, funções motoras e, principalmente, o equilíbrio”, declara.
O tratamento é indicado para todos os tipos de deficiência, porém as restrições dependem quadros clínicos, como em casos de convulsões não controladas, luxação de ombro ou quadris, escoliose acima de 30 graus e hidrocefalia com válvula. A dona de casa Márcia Nascimento, 29 anos, que há cinco meses inseriu essa técnica na vida da filha Raíssa Vitória, de três anos e portadora de microcefalia, conta sobre os resultados alcançados em tão pouco tempo.
“Eu já passei com ela por outros tipos de tratamento e não conseguia ver evolução. Hoje é muito gratificante ver o desenvolvimento da minha filha em tão pouco tempo. Antes ela era muito parada, não se mexia direito. Hoje ela está outra pessoa, totalmente ativa e realizando movimentos que eu sempre quis vê-la fazendo, como levantar o pescoço sozinha. Isso me deixa muito feliz”, afirma Márcia.
“Os cavalos vêm dando pernas para essas crianças. Logo no início do tratamento, algumas choravam para não subir nos cavalos. Hoje, muitas delas choram por não querer descer. Essa atividade fora de quatro paredes, que coloca a criança em contato com a natureza e com os animais, as permite ver o mundo de outra forma. E isso traz um fator psicológico impressionante. É uma satisfação não só das crianças, mas de toda equipe que atende elas”, declara a presidente.
Acesso – Para se cadastrar na lista de espera, basta entrar em contato com a associação pelo telefone (71) 3249-0599 ou se dirigir até o espaço com os documentos (Rg ou Certidão de Nascimento e Comprovante de Residência) da criança e do responsável, junto aos exames médicos. Após esse cadastro é feito uma seleção pela equipe multidisciplinar e posteriormente, com o surgimento de vagas, as crianças são chamadas.
Contribuição via IR – Qualquer cidadão pode destinar recursos para o Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (FMDCA) através da declaração anual do Imposto de Renda (IR), que este ano vai até o dia 30 de abril. O limite é de até 3% do imposto retido, sendo pessoa física ou jurídica. E o melhor: a boa ação é integralmente deduzida, ou seja, quem contribuir não paga nada a mais por isso. Exemplo: para cada R$100 retido, é possível doar R$3.
O fundo é administrado pela SPMJ e o valor arrecadado é destinado a dezenas de projetos sociais, assim como a Abae, desenvolvidos em prol da defesa dos direitos infantis e juvenis em Salvador. Em 2018, foram arrecadados R$259.207,77 durante o período de declaração do IR. Mas, ao longo de todo ano, o montante doado para o fundo chegou a pouco mais de R$1 milhão.
Atualmente, três convênios são subsidiados pelo FMDCA, beneficiando 670 crianças e adolescentes. Graças ao montante são realizadas ações voltadas para reabilitação de crianças com deficiência, inclusão digital, esportes, reforço escolar e apoio à defesa dos menores em relação à violência e responsabilização dos agressores. Em 2018, foram realizados 14.440 mil atendimentos, totalizando 15.110 mil crianças beneficiadas.
Fonte: Secom Salvador