SAÚDE MENTAL É TEMA DE AUDIÊNCIA PÚBLICA NA ALBA
A inserção de psicólogos nas equipes de saúde da família, a saúde mental materna, a ampliação dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPs), a situação do Hospital Juliano Moreira e a implementação da psicoeducação na rede escolar. Esses foram alguns dos assuntos discutidos na manhã desta terça-feira (11) em uma concorrida audiência pública realizada na Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA).
Proposta pela deputada Ludmilla Fiscina (PV), o evento ocorreu no âmbito da Comissão de Saúde e Saneamento e contou com a presença de médicos, psicólogos, farmacêuticos, secretários municipais de Saúde e especialistas de forma geral. O resultado do encontro será tema de uma conversa dos integrantes do colegiado com a secretária estadual de Saúde, Roberta Santana, que deve ocorrer nesta quarta-feira (12).
O evento teve como tema “A rede de atenção à saúde mental do Estado da Bahia: avanços e garantias da atenção psicossocial no SUS”. E foi dividido em três eixos temáticos. No primeiro, foi discutido, dentre outros assuntos, o despreparo das equipes de atenção básica para atender os pacientes com problemas de saúde mental. “Saímos de uma pandemia de Covid-19, mas digo baseado em estudos que ela foi substituída por uma pandemia de problemas de saúde mental”, observou Ludmilla Fiscina, que presidiu a sessão.
No segundo eixo da audiência, foram discutidos temas como a implementação do Centro Regional de Atenção Psicossocial e a importância dos hospitais psiquiátricos na rede de assistência psicossocial. E no terceiro foi debatida a saúde mental nas escolas.
Coube ao psicólogo Moacir Lira, coordenador de Saúde Mental do município de Alagoinhas, abrir o primeiro eixo temático da audiência. Para ele, a inclusão de psicólogos nas equipes de atenção básica trará como resultado a redução dos atendimentos nos CAPs. “Hoje estamos vivendo um grande problema de superlotação nos CAPs, fruto de uma ‘captivação’, já que essas unidades deveriam ficar responsáveis pelos casos mais complexos”, afirmou.
Para a psiquiatra Ana Pitta, ex-presidente da Associação Brasileira de Saúde Mental, para se fazer uma boa política no setor é preciso de três fatores –-rá, coração e dinheiro. “Ira para nos indignarmos com tudo que está acontecendo. O amor porque é a melhor forma de entendermos que está com um problema de saúde mental. E toda boa política requer dinheiro”, afirmou.
Na sequência, a psicóloga Ana Brandino falou sobre maternidade e saúde mental. “A maternidade envolve muito amor, mas também muita dor”, disse ela, logo no início de sua fala. Para ela, os cuidados antes, durante e após o parto podem salvar vidas de mulheres e recém-nascidos. Uma das grandes razões, lembrou ela, é o grande número de mulheres que têm seus filhos sozinhas. “O Brasil tem, segundo os dados do IBGE, mais de 11 milhões de mães inteiramente responsáveis pela criação dos filhos”, afirmou.
Representante da Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab), a diretora de Gestão de Cuidados, Liliane Silveira, defendeu também que a discussão sobre saúde mental seja mais ampla. “É bastante oportuna essa discussão em torno da saúde mental nessa perspectiva transversal e intersetorial”, afirmou ela. Liliane também defendeu o fortalecimento da atenção básica.
A secretária de Saúde de Alagoinhas, Laína Lobo, afirmou que o Sistema Único de Saúde (SUS) passa por um gravíssimo problema que está além do subfinanciamento. “Nós estamos enfrentando, principalmente nos últimos quatro anos, o desmoronamento de políticas públicas que anteriormente estavam em processo de implantação, sobretudo na área de saúde mental”, afirmou.
O vice-presidente do Conselho Estadual de Secretários Municipais de Saúde da Bahia, Raul Molina, também destacou o que chamou de “desaparelhamento” do SUS em relação à saúde mental. “Nos últimos anos ocorreu uma desconstrução total no SUS. A Saúde mental foi agredida, foi diretamente atacada, de forma indiscriminada. Se teve problemas nas outras áreas, na saúde mental foi bem pior”, afirmou.