A Rua Direita, principal rua do bairro de Santo Antônio, no Centro Histórico de Salvador, e a famosa Ladeira do Boqueirão ganharam requalificação urbana que resgata as suas características do século XIX, com pavimentação em pedra granítica em formato de paralelepípedo e melhorias no acesso, além da retirada dos postes e rebaixamento subterrâneo de fios aéreos. Os últimos retoques da obra terminam neste domingo (16). A área integra a poligonal de tombamento federal como Patrimônio do Brasil (1984), com chancela da Unesco como Patrimônio da Humanidade (1985) devido ao seu conjunto arquitetônico, paisagístico e urbanístico.
“As obras de requalificação no Santo Antônio incluem a retirada do asfalto de 17 mil metros quadrados de ruas, ampliação de calçadas tornando-as mais acessíveis com novo granito e pedras portuguesas e um sistema de acessibilidade, além do rebaixamento subterrâneo dos fios em vala técnica com 16 mil metros de tubos para eletricidade e telecomunicações”, explica o diretor de Habitação e Urbanização Integrada (Dihab) da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Bahia (Conder), Maurício Mathias.
Asfalto
As ações foram coordenadas pelo escritório da Conder no Centro Antigo (CAS). “As ruas em paralelepípedo restauram as características do espaço urbano tombado como patrimônio cultural e contribuíram para a equalização climática do bairro já que o asfalto anterior esquentava muito mais sob o sol”, destaca Mathias.
A próxima etapa é com a Coelba, que deve iniciar a retirada dos postes antigos de concreto e de ferro colocando luminárias tipo lampiões em estilo ‘Caiscais’ que remetem ao colonial. Já na Ladeira do Boqueirão, a Coelba deve instalar pequenos postes de metal cujo design se inspira no final do século XIX.
A obra faz parte do Programa PAC Pavimentação (Projeto Pelas Ruas do Centro Antigo), executadas pelo Governo do Estado via Conder/Sedur, totalizando serviços em 313 vias no CAS. Além de ser protegido legalmente, o bairro de Santo Antônio detém monumentos tombados individualmente como Patrimônios da Bahia e do Brasil, dentre eles, o Oratório da Cruz do Paschoal, a Igreja do Boqueirão e o Forte de Santo Antônio.
A obra se tornou mais complexa no período da pandemia. Para evitar a contaminação, os operários passaram a trabalhar em revezamento, diminuindo as jornadas e o ritmo de execução. Além disso, ocorreu escassez de material em toda a Bahia, como cimento e paralelepípedos. As prospecções arqueológicas obrigatórias por lei, com escavações ao longo de área, também obrigaram a novos cronogramas. Por fim, as intensas chuvas impediram muitas vezes a continuidade da intervenção urbana.
“Fomos obrigados ainda a adaptar o percurso subterrâneo do sistema de valas técnicas para as tubulações; como se trata de área muito antiga, foram descobertas muitas tubulações não cadastradas pelas concessionárias de água, esgoto e energia originária dos últimos 150 anos”, esclarece o arquiteto fiscal da obra da Conder, Raul Chagas.
Santo Antônio
O bairro é um dos mais antigos da capital baiana, depois do Pelourinho e Praça Municipal. Surgiu no século XVII, com pequenas casas construídas fora dos muros que então circundavam a cidade e que na época ficavam onde está hoje o Largo do Pelourinho. O bairro estava depois do Convento do Carmo, também originário do século XVII e tombado como Patrimônio Nacional. O bairro era a única e principal entrada norte para a cidade.
As obras da Conder trazem para o Santo Antônio, 20 anos depois, o mesmo padrão de preservação que o Pelourinho já tem de rebaixamento subterrâneo das fiações de eletricidade e telecomunicações desde a década de 1990. A Conder fez igualmente a requalificação e o rebaixamento de fios na Rua Chile. Segundo os urbanistas, o excesso de fios aéreos é um dos itens que mais comprometem a paisagem dos centros históricos no Brasil. Segundo o Iphan, órgão federal, o Brasil detém 94 áreas tombadas em 70 cidades históricas, mas somente 10% delas atendem as obrigações normativas, uma das quais é o rebaixamento subterrâneo de fiações.
Estiveram envolvidos na obra mais de 40 pessoas, dentre operários, arquitetos, engenheiros, arqueólogo, assistentes sociais, fiscais, cabos de turma e apoios administrativos. A Conder manteve proteção e limpeza diária dos trechos em execução, além de diálogo permanente com a população via setor social, no telefone (71) 3116-6760 e e-mail socialpacpav@conder.ba.gov.br.
Centro Antigo
Por meio do escritório no Pelourinho, a Dihab/Conder coordena o Projeto ‘Pelas Ruas do Centro Antigo de Salvador’, a maior iniciativa conjunta e simultânea de benefício a logradouros públicos já realizada na área central. O bairro do Santo Antônio é o Lote 4 dessa iniciativa. O projeto pavimenta vias e requalifica calçadas, com sistemas de acessibilidade, totalizando R$ 124 milhões em investimentos do Governo do Estado, beneficiando diretamente 313 ruas, em 11 bairros do CAS, incluindo a Rua Chile e mais 17 ruas do CHS.
No Pelourinho, a Dihab/Conder entregou a obra da Casa do Idoso do Pelourinho – que beneficia mais de 200 idosos da região –, localizada entre o Largo Quincas Berro D’Água e a Rua João de Deus, requalificou a Praça Pastores da Noite e pinta periodicamente centenas de fachadas de imóveis. No Comércio são 55 ruas. Já foram entregues 10 e a requalificação em granito na entrada do Elevador Lacerda. A Conder é vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Urbano do Estado (Sedur).