Os ataques continuam, a cobrança também.
“Não podemos tratar mais este episódio de violência contra jornalistas isoladamente. Sob o atual governo, o Brasil se tornou um lugar hostil para o exercício da atividade jornalística.
Questionar a imprensa ou discordar dela são atitudes legítimas; tentar silenciá-la com ataques e tentativas de intimidação é mais uma evidente e grave violação à Constituição e ao Estado Democrático de Direito, que infelizmente se tornaram comuns no Brasil” — Instituto Vladimir Herzog.
Ataques a profissionais da imprensa brasileira ocorrem até fora do país, durante ato pró-Bolsonaro em frente à embaixada do Brasil em Roma, na Itália. Segundo relato do enviado especial da BBC News Brasil ao evento, Matheus Magenta, agentes de segurança “empurraram, deram socos, arrancaram celular de um repórter que filmava a manifestação, seguraram, gritaram e impediram jornalistas de chegar perto do presidente para entrevistá-lo” – BBC NEWS em 01.11.2021.
Diante desse e outros acontecimentos, o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, deu 10 dias para que o presidente Jair Bolsonaro preste informações no âmbito de ação que questiona ameaças, incitação à violência e constrangimentos praticados pelo chefe do Executivo contra profissionais da imprensa. Em razão da ‘relevância’ do tema, Toffoli adotou o rito abreviado e enviou o caso para análise do Plenário do Tribunal, com julgamento definitivo. A informação vem da revista IstoÉ Dinheiro, Estadão Conteúdo, em 6 de novembro de 2021.
Na Bahia, o jornalista Orlando Oliveira Silva foi agredido, no dia 24 de junho deste ano, enquanto filmava uma guerra de espadas no bairro Ana Lúcia, na cidade de Cruz das Almas, Recôncavo baiano. O material seria utilizado em uma matéria jornalística sobre as espadas e suas contradições. Segundo informações publicadas no site do Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba), que repudiou as agressões e o ataque à liberdade de imprensa, o profissional foi perseguido e derrubado, atingido por diversos socos e pontapés, ficando com escoriações nos braços, costas e rosto, além de ter destruído seu aparelho celular. Publicação da redação do jornal Correio em 28.06.2021, Correio 24 horas.
Em documento encaminhado ao governador do Estado da Bahia, Rui Costa, do PT, solicitamos providências junto aos órgãos de segurança pública. Até o momento não obtivemos respostas favoráveis quanto à punição dos culpados.
Esperamos que possam dar resposta às famílias e aos profissionais agredidos, como foi relatado e denunciado. Bem como a invasão do Site “Bahia Alerta” por piratas informáticos, conforme relato do publicitário e proprietário do site Bahia Alerta Comunicações, Adriano Rocha Wirz Leite.
Após 23 anos do assassinato do jornalista Manoel Leal de Oliveira, ocorrido em 14 de janeiro de 1998, os mandantes do crime continuam impunes. Ele foi assassinado após detalhar no jornal irregularidades cometidas por integrantes da administração municipal durante o governo do então prefeito Fernando Gomes de Oliveira, em Itabuna, sul da Bahia.
Apuração com rigor da morte do jornalista e radialista Geolino Lopes Xavier, de 44 anos, assassinado a tiros, no centro de Teixeira de Freitas, extremo-sul da Bahia, no dia 27 de fevereiro de 2014.
Resposta ao assassinato do produtor da Record (TV Itapoan), José Bonfim Pitangueira, morto com 11 tiros, no dia 9 de abril de 2021, no bairro da Federação, em Salvador.
Agora, é a vez do município de Jeremoabo, região do São Francisco na Bahia. Assédio judicial, ameaças, perseguições, intimidações aos profissionais de imprensa, local e região, tem sido constantes e crueis. Os crimes são direcionados pelo Dr. Antônio Jadson do Nascimento, “Advogado”, chefe de gabinete do prefeito da cidade, Deri do Paloma, que é do Partido Progressista (PP).
O chefe de gabinete do prefeito, “Dr” Jadson, chegou a ameaçar com tiro, os radialistas da cidade de Paulo Afonso e Jeremoabo. Nos áudios, o chefe de gabinete do prefeito Deri do Paloma (PP) diz que os jornalistas denigrem a imagem da administração e afirma que resolverá as questões “na bala”. As mensagens são direcionadas aos profissionais do rádio Chico Sabe Tudo, Douglas Santos e Adalberto Vilas-Boas, mais conhecido como Beto do Caju, que fazem cobertura política em Jeremoabo, Paulo Afonso e na região do São Francisco na Bahia – Relatado no Blog Montalvão.
Os radialistas e jornalistas Adalberto Vilas-Boas e Douglas Santos registraram queixa na Delegacia de Jeremoabo contra o chefe de gabinete da prefeitura. Segundo Beto do Caju, ele não foi procurado para um pedido de desculpas. Outro caso foi o do radialista da Jeremoabo FM, também na mesma cidade, Márcio Lima. Lima foi agredido no local de trabalho em plena atividade, caso registrado em boletim de ocorrência na Polícia da cidade.
Não parou por aí. O chefe de gabinete, o prefeito e secretários, após terem agredido com socos, pontapés e empurrões, o radialista e repórter Davi Alves, este sofre “assédio judiciais”. Processado, no judiciário da cidade da pelos gestores, por haver denunciado o uso do veículo da Secretaria de Educação no uso particular e transporte de mudanças. No período eleitoral, o repórter Davi também denunciou a prática de doação de material de construção civil.
Todas as agressões vêm sendo denunciadas no Blog do Montalvão, que depois das denúncias vem também sofrendo perseguições e assédio judicial. O fato curioso é que, neste caso, a perseguição parte do próprio Judiciário. José Dantas Martins Montalvão foi Intimado pela Vara Criminal de Jeremoabo para Audiência preliminar, Processo 0000598-37.2019.8.05.0142. O motivo: “Haver publicado no seu Blog denúncia de 14 (quatorze) advogados a OAB-Paulo Afonso contra o Serventuário Leonardo Bitencourt de Hungria, que vem exercendo de forma não legal a função de “Diretor de Secretaria”, já que essa função é restrito aos profissionais formados no curso de Direito. Segundo consta em portaria n.º CCI – 392 018-GSEC do Corregedor concernente exercício de Diretor de Secretaria da Vara Crime da Comarca de Jeremoabo Bahia. Bitencourt de Hungria, empossado via concurso público em cargo de atribuições de nível médio junto ao Juizado Especial do TJBA, configurando progressão funcional vedada pela CF/88 e outras ilegalidades.
Como se não bastasse, assédio judicial e perseguição na tentativa de intimidar o trabalho da imprensa, ataques virtuais ganharam um capítulo à parte no relatório de 2020, com uma análise própria sobre a descredibilização da imprensa no Brasil. A apuração, em parceria com a Bites, revelou que, em 2020, foram publicados 2,9 milhões de posts negativos sobre a imprensa brasileira, número 9% inferior ao registrado em 2019. Nesse campo, foram consideradas expressões como “golpista”, “lixo”, “parcial”, “canalha” e “grande mídia”. Prática costumeira e miliciana, hoje. Jornalistas brasileiros foram alvos de quase 6 ataques por minuto em 2020, o que corresponderia a 7,9 mil por dia, segundo o levantamento.
O relatório também aponta que a mídia em geral foi mais citada, generalizadamente, em conteúdos nas redes sociais. Ao total, foram produzidos 42 milhões de posts de natureza genérica sobre a mídia no Twitter, Facebook e Instagram. Essa quantidade representa um aumento de 4% em relação a 2019, quando houve 40,3 milhões de menções à imprensa geralmente. A informação vem do jornal “Congresso em Foco”, publicada em 30 de março deste ano de 2021.
Por fim, em audiência pública, 19 de julho deste ano, na Câmara Municipal da capital baiana, Salvador, onde foi discutida agressão aos profissionais de Imprensa. “A preocupação com a crescente escalada de violência contra jornalistas em todo o estado da Bahia é um sentimento compartilhado por todos os profissionais do setor. Requer ações mais enérgicas por parte das autoridades governamentais e do Poder Judiciário de modo a solucionar esse grave problema que tem atingido toda a nossa categoria”.
Fábio Costa Pinto
Jornalista de profissão, formado pela ESPM do Rio de Janeiro, com MBA em Mídia e Comunicação Integrada pela FTE/UniRedeBahia.
Membro da Associação Brasileira de Imprensa-ABI (Sócio efetivo)
Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Associado)
Sindicalizado, Sinjorba / Fenaj