ECONOMIA: CRÉDITO DEVE IMPULSIONAR PIB EM 2020, PRODUTIVIDADE E ENDIVIDAMENTO SÃO OS GRANDES DESAFIOS
Em 2019, a demanda pelo crédito para as pessoas físicas subiu 12% em relação a 2018
Depois de um longo período entre a recessão e a quase estagnação, o Brasil viverá a partir de 2020 um novo ciclo de crescimento real da economia brasileira, acredita Luiz Rabi, economista-chefe da Serasa Experian.
Em entrevista, Rabi projeta que, em tempos de juros baixos, o crédito vá se expandir de forma consistente e impulsionar o consumo e a retomada da atividade econômica. Completa o cenário o início da operação do cadastro positivo, que vê como oportunidade para uma expansão ainda mais intensa do crédito com a diluição dos riscos para quem empresta.
“Em 2019, a demanda pelo crédito para as pessoas físicas subiu 12% em relação ao ano passado, sendo que a redução de juros foi apenas no segundo semestre. Vamos começar o próximo ano já com juros baixos e a expectativa é que a expansão seja ainda maior”, argumenta.
Juros baixos são pré-requisito para continuar crescendo. Se as pessoas físicas estão encontrando uma situação melhor para buscar crédito, com a competição entre diversos fatores e a redução das taxas de juros, uma lacuna deve se manter no mercado tradicional de crédito: o financiamento de longo prazo para projetos de empresas.
Para o economista, caminhamos para fazer do limão uma limonada, com as companhias recorrendo ao mercado de capitais para se financiar, por meio da emissão de debêntures, de ofertas de ações e da própria abertura de capital.
No caso das debêntures, a liquidez aumentou em 174% nos últimos 2 anos, movimentando R$ 99 bilhões no Brasil. Só que para isso se manter é pré-condição a manutenção dos juros baixos, que obriga os investidores a deixarem a renda fixa em busca de maiores rendimentos, mesmo que com algum grau de risco.
“O investidor não está mais satisfeito com a rentabilidade da renda fixa e por isso surge a demanda por esses títulos privados. Temos uma carência por esse crédito de longo prazo, que sempre foi preenchido no Brasil por BNDES, e é importante por ser ligado a investimentos na produtividade, como reforma e ampliação de unidades, agora com critérios de análise de mercado”, afirma.
Os riscos: a produtividade e o endividamento. O economista-chefe da Serasa defende que crescer apenas não basta, se o Brasil não atacar dois problemas estruturais: a baixa produtividade e o alto endividamento.
“Quando o desemprego cair e não houver mais capacidade ociosa, se não for acompanhado por medidas como privatizações e obras em infraestrutura, você tem uma demanda alta e baixa produtividade. Isso faz a inflação disparar, como vivemos recentemente no Brasil”, diz.
Quando ao endividamento, Rabi projeta que consigamos sair gradualmente da difícil marca de 63 milhões de endividados, que acompanha o Brasil há mais de dois anos. O economista acrescenta que a marca é uma falsa estabilidade, uma vez que a manutenção do patamar reflete na verdade a “reposição” dos cerca de 2 milhões que mensalmente conseguem regularizar o nome.
Para o porta-voz da Serasa, a avaliação mais apurada do cadastro positivo pode proporcionar uma redução na entrada, na medida em que os grandes credores repitam o que fizeram recentemente, aproveitando os juros baixos para promover renegociações, muitas vezes encaminhando os devedores para linhas de crédito mais baratas.