MEU PRESENTE AO PASSADO por Costa Lima Artista Plástico
Não encontrei nos anais da Leste – Ba nem no acervo da Prefeitura o mínimo vestígio do que foi o Novo Abrigo de Bondes da Calçada, erguido nos anos 50.
Recebi por gentileza de suas autoras, Cybele Santiago e Karina Cerqueira o livro: Sobre Arcos e Bondes, que trata exaustivamente sobre o assunto, citando e recorrendo ao vasto acervo da A Linhares, e nem lá alcancei o objetivo. Até mesmo o Tempostal do incansável Marcelino traz nos seus milhares de documentos fotográficos notícias do monumento, quando bondes, marinetes, lotações e multidões de usuários se entrelaçavam em seus vários interesses.
Não houve um só artista ou fotógrafo que se impressionasse com o arrojado projeto arquitetônico para a época; que tivesse acalentado o desejo de apresentá-lo a gerações vindouras. Ele foi uma espécie de menor abandonado e para sempre esquecido. Demolido e sepultado pelo progresso “que destrói coisas belas”, sem honras, por uma cidade que se refugiou sob sua vasta marquise – a maior dos abrigos existentes – da inclemência do sol e das chuvas.
Como nasci em 1946, atrás do quarteirão que corresponde a parte direita desse meu quadro, onde funcionava dentre outros o grande e famoso armazém Vasquez, por muito tempo quase que diariamente minha bondosa mãe, D. Luiza, me conduzia pela mão, fazendo o trajeto que passava pela frente da Estação, mergulhava num subterrâneo – existente até hoje – que desaguava no tal abrigo, junto a uma cantina e daí seguíamos até parar na Escola Barão de Cotejipe, onde completei a primeira fase dos meus estudos.
Com idas e vindas constantes, inconscientemente fui coletando detalhes preciosos, até mesmo as cores, o burburinho de veículos, vozes de propagandistas vendendo mil coisas, pedestres apressados, e a figura simpática de um engraxate por nome de Seo Barbosa, em sua cadeira de rodas.
Agora, quase setenta anos depois, decidi num exaustivo esforço mental reconstruir em forma de esboço a paisagem perdida. Não sou gênio e sei que muito do que apresento pode sofrer alteração, por isso conto com a ajuda de contemporâneos e até mais idosos para oferecer, em 2020, a bela imagem que existiu, embelezou, foi útil e que nem por isso mereceu em sua memória, um pequeno, preto e branco e desbotado 3×4.
Costa Lima Artista Plástico