As manifestações das ruas
Nos últimos tempos, assistíamos incrédulos pessoas irem as ruas em plena pandemia e campanha de isolamento social para defenderem o governo, o presidente e também atacar instituições.
Praticamente durante meses, as ruas foram território exclusivo deste grupo, que entendiam, assim, falar pelo povo e pelo Brasil, dada a ausência do contraditório.
Vimos surgir frases contra a ordem democrática, defendendo o fechamento do Supremo, um “golpe com Bolsonaro no poder” até frases em defesa de um “novo AI-5″.
Era urgente as pessoas que defendem a democracia saírem as ruas. Eu mesmo me perguntava que valor faria as pessoas saírem as ruas, já que nossa democracia estava sob ataque. Confesso que já preparava um texto sobre isso, quando, no último domingo assistimos torcidas organizadas saírem em protesto em várias partes do país em defesa da democracia.
As redes, pela primeira vez neste governo, se conectaram as ruas, numa onda pelos 70% que contagiou a todos.
O mais engraçado, porem por motivo trágico, é que o exemplo de que devemos ir às ruas protestar por valores sociais que transcendem a nossa própria segurança veio do país que tanto os apoiadores do presidente gostam de seguir: Os Estados Unidos. Após o brutal, criminoso e racial assassinato de um homem negro, imobilizado e sufocado por um policial branco, as ruas foram tomadas por milhares e milhares de pessoas, protestando por aquilo que é um valor de sociedade: Justiça e Igualdade!
Tal movimento que começou a tomar as ruas e as redes no Brasil, deixou em pânico os apoiadores do presidente pois, estava ali, quebrada a exclusividade das ruas, estava as redes não mais dominadas por robôs e fake News, mas por pessoas que estavam defendendo o que temos de mais precioso e que conquistamos a duras penas e sobre o caixão de milhares de vítimas: nossa democracia!
É importante salientar e diferenciar que, não fora somente a ida para as ruas dessas pessoas ou o crescente apoio ao movimento 70% que os deixou atônitos, mas as diferenças que fazem ambos os grupos estarem nas ruas: Um grupo quebrou e continuará quebrando o isolamento social por que, no fundo não acredita nele. Não são heróis por correrem risco de vida. Eles se sentem heróis por estarem indo as ruas contra um sistema nefasto de dominação que só existe nas mentes deles. O que os levam as ruas é a defesa de um homem. Enquanto que aqueles que foram as ruas no domingo quebrando o isolamento social, assim o fizeram de forma consciente, sabendo dos riscos, mas que entendem ser necessário diante do ataque há um valor inegociável: Democracia. E contra isso, quem vais e levantar contra? Vão dizer que não se devem ir as ruas? Vão dizer que o que se pede lá é algo ruim? Eis os motivos deles ficarem atônitos! Não há como se contrapor. Não há o que se atacar. Eis o brilhantismo e a beleza dos atos de domingo: Não há como se contrapor!
Milhões e milhões de brasileiros começam a entender que não se podem calar quando valores de uma sociedade está sob ataque. Devem ir as ruas, protestar porem sem vandalismo, sem ataques e respeitando patrimônios e a segurança das pessoas. Não se pode perder o brilhantismo deste ato com ações deste tipo, dando aos apoiadores dos Bolsonaro o único gancho possível para tentar deslegitimar os atos, tentando intimidar que voltemos as ruas e que mostremos que somos 70%.
Vitor Gantois – Bacharel em Direito pela Universidade Católica do Salvador, pós Graduado em Direito Público Municipal, pós Graduando em Docência do Ensino Superior, Superintendente Adjunto da Defesa Civil do Estado da Bahia, militante politico, já coordenou inúmeras campanhas eleitorais e é observador da cena politica e do cotidiano.
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