Política
Sessão especial na ALBA celebra o centenário de Mãe Stella de Oxóssi

Ao som de atabaques e agogô e a presença massiva do povo de santo, a Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA) reverenciou os 100 anos de nascimento de Mãe Stella de Oxóssi, falecida em 2018, em uma concorrida sessão especial, na tarde desta quinta-feira (22), que teve como proponentes as deputadas Fabíola Mansur (PSB) e Olívia Santana (PC do B). A presidente da Casa, deputada Ivana Bastos, não escondeu a emoção em dirigir os trabalhos em homenagem a “uma das mais respeitadas lideranças espirituais do Brasil, referência ética, cultural e religiosa da nossa Bahia”, definiu.
O Plenário Orlando Spínola foi tomado por diferentes cores dos trajes religiosos, dos sacerdotes e sacerdotisas, com seus ojás, filás,alakás e xocotôs e a riqueza de representações, na plateia, foi tamanha, que as proponentes se desculparam em não ter como contemplá-las com assento na mesa. Para a presidente Ivana Bastos, Mãe Stella deixa um legado de força e ensinamento como “uma voz que ultrapassou os muros dos terreiros para dialogar com a sociedade, com a educação, com o serviço público, com a espiritualidade ecom a cultura de forma ampla e generosa”.
A chefe do Parlamento baiano anunciou que, por solicitação de Fabíola Mansur, a Casa reeditará o livro de Mãe Stella pelo selo ALBA Cultural, intitulado ‘Meu Tempo é Agora’, como parte das homenagens oficiais pelo seu centenário. “Essa reedição é um ato de preservação da memória, de valorização da cultura afro-brasileira e de respeito a uma das maiores pensadoras espirituais da Bahia. Além de ser um ato de justiça cultural a uma mulher que dedicou sua vida a ensinar, acolher e transformar”,afirmou.
“Émuito bom ter três deputadas mulheres homenageando a maior iyalorixádo Brasil”, observou Fabíola Mansur, definindo a ialorixá como uma “diplomata”, que defendia as religiões de matriz africana ao tempo em que “fazia pontes com as outras religiões”. Além dasua luta contra a intolerância religiosa e defesa dos direitos humanos, a deputada proclamou como seu maior legado o combate ao “sincretismo folclórico, liderando o maior movimento anti-sincretista do país, para salvaguardar o Candomblé”. Durante seu pronunciamento, Mansur também exibiu trecho de documentário, produzido pela jornalista Samyle Fonseca, com Mãe Stella falando de Jorge Amado, obá de Xangô do Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, liderado por ela durante 42 anos.
Já Olívia Santana salientou que, assim como Mãe Stella, legítima herdeira de Mãe Senhora e Mãe Aninha, “essas mulheres negras construíram e ocuparam um lugar político, social e institucional que elas criaram, através da religião de matriz africana”. Ela ilustrou sua fala lembrando a luta que a fundadora do Ilê Axé Opô Afonjá, Mãe Aninha, teve na aprovação, em 1934, do decreto do governo de Getúlio Vargas que pôs fim à proibição dos cultos afro-brasileiros no Brasil. Da mesma forma, a parlamentar anotou que“não tinha um candidato, a prefeito, governador, que não fosse‘bater cabeça’ para a Mãe Stella, pedir a bênção para seguir adiante”, assim como apontou que não se pode falar em cultura baiana, como o Axé Music, sem citar os terreiros de Candomblé.
As proponentes se colocaram à disposição da sucessora de Mãe Stella para contribuir com o trabalho social do Ilê Axé Opô Afonjá. Desde 1978, lá funciona a única escola no país dentro de um terreiro de Candomblé, referência no ensino da história e cultura afro-brasileira – a Escola Eugênia Anna dos Santos, fundada por Mãe Stella. Mãe Ana de Xangô, atual iyalorixá do terreiro, ratificou aresponsabilidade de seguir como legatária de Mãe Stella de Oxóssi,reafirmando que “sua ancestralidade é viva entre nós”.
A efeméride também foi marcada por pronunciamentos que valorizaram o diálogo inter-religioso da iyalorixá, como o líder espírita José Medrado, fundador da Cidade da Luz, e o padre Lázaro Muniz, pároco da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. “Mãe Stella também foi minha mãe”, disseram ambos. Durante a solenidade,também foram exibidas mensagens de pessoas de diversos segmentos –o senador Jaques Wagner, que destacou a serenidade e visão de futuroda religiosa; o sociólogo Muniz Sodré, que tratou a sessão como um “reconhecimento à sua liderança cívico-comunitária”; além de Danilo Caymmi, Paloma Amado e Solange Carybé, que falaram da relação da sacerdotisa com seus pais, respectivamente o cantor e compositorDorival Caymmi, o escritor Jorge Amado e o artista plástico Carybé.
Também participaram da solenidade, com assento na mesa, Ângela Guimarães, secretária estadual de Promoção da Igualdade Racial e dos Povos de Comunidades Tradicionais; Lidivaldo Britto, desembargador, representado a presidente do Tribunal de Justiça da Bahia (TJBA), Cynthia Maria Pina Resende; deputada federal Lídice da Mata (PSB); promotora Lívia Maria de Santana, representando o procurador-geralde Justiça, Pedro Maia; Joaci Góes, presidente do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia; irmã Neci Leite, provedora daFesta da Boa Morte de 2025; João Jorge Rodrigues, presidente da Fundação Palmares, representado o Ministério da Cultura; Adriano Azevedo, obá abiodun do Ilê Axé Opô Afonjá e sobrinho de Mãe Stella; iyá Márcia de Ógún, iyalorixá, colunista e coordenadora do Renafro de Lauro de Freitas; Pai Pote, babalorixá do Bembé doMercado de Santo Amaro; Aleilton Fonseca, presidente da Academia de Letras da Bahia; Fabio Velame, diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Ufba, representando o reitor Paulo Miguez; Rafael Manga, representando a Secretaria estadual de Cultura; Pai Air, do TerreiroPilão de Prata; e o presidente da Sociedade Beneficente Cruz Santado Axé Opô Afonjá, Emanuel Antônio.