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Comissão de Saúde da ALBA debate doenças crônicas negligenciadas na pandemia

A Comissão de Saúde e Saneamento da Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA) realizou, na manhã desta terça-feira (10), uma audiência pública com o tema Doenças Crônicas Negligenciadas na Pandemia. O evento, realizado de forma virtual e transmitido na página do Facebook da TV ALBA, foi comandado pelo deputado proponente José de Arimateia (Republicanos), vice-presidente do colegiado e presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Saúde e Institutos de Pesquisa Afins na Bahia, e contou com a participação do presidente Eduardo Alencar (PSD) e da deputada Fabíola Mansur (PSB).

O primeiro palestrante convidado a falar, Dr. Robson Moura, médico oncologista no Hospital Aristides Maltez (HAM) e na Santa Casa de Feira de Santana, disse que, com a pandemia, passou-se a ter “várias mortes invisíveis no país”. Ele relata que, antes da Covid-19, por deficiência do próprio Sistema de Saúde, já havia uma taxa alta de 30% a 40% de pessoas que chegavam ao HAM com a doença em estágio avançado e que em torno de 60% dos diagnosticados com câncer eram possíveis de ser tratados e levados à cura. Mas, no auge da pandemia, segundo Robson, esse número de pacientes que chegava com diagnóstico ruim foi elevado a 70%.

“É preciso lembrar que o câncer não espera. O Aristides Maltez não fechou as portas em nenhum momento para os pacientes que tivessem o diagnóstico de câncer”, afirmou o médico. Segundo ele, durante a pandemia, houve uma negligência muito grande pela família, pelo paciente, pelo gestor público, pelos atores no dia a dia. Ele disse que, “por medo ou falta de conhecimento, prefeituras do interior da Bahia, de uma forma geral, não deixavam o paciente chegar a Salvador”, e pacientes com sintomas de câncer deixaram de buscar a rede de saúde. Também explicou que agentes de saúde, nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), por exemplo, davam mais atenção a pacientes com insuficiência respiratória grave causada pela Covid do que aos sintomáticos de câncer.

“Mesmo com a pandemia diminuída, é importante que o poder público, que já faz um trabalho bom, seja melhorado. Houve um impacto negativo muito grande. E é preciso que a gente reestude (a situação da pandemia) para que, caso à frente tenhamos coisa parecida, já estejamos preparados para esse tipo de trabalho”, concluiu.

O diretor-geral do Hospital Ana Neri, Dr. Luiz Carlos Santana Passos, cardiologista e professor-associado da Ufba, relatou uma experiência positiva na unidade por ele dirigida. “Logo no começo da pandemia, no mês de abril (do ano passado), notamos uma desaceleração brutal no ambulatório. Mas no mês de maio a gente tomou um conjunto de medidas que visavam minorar esse panorama”, disse o médico, destacando entre outras ações, a busca ativa de casos.

“Isso surtiu efeito. A partir de maio, começamos a aumentar os níveis de atendimento à população e isso foi aumentando nos meses posteriores. Até hoje, continuamos a bater recordes. No mês de julho, agora, pela primeira vez tivemos 638 internações de cardiologia. O segundo número mais próximo foi 570”, explicou Luiz Passos.

“Nossa busca ativa de casos foi muito bem-sucedida ao ponto em que chegamos a não ter fila de cirurgia cardíaca no Estado. Digo isso porque, enquanto sociedade, podemos minorar os problemas que ocorrem não só durante a pandemia, mas o problema da desassistência em um estado que é territorialmente muito grande, em que a logística é difícil”, completou Neri.

CASOS AGRAVADOS

O enfermeiro Abdon Brito, coordenador de Atenção Primária em Saúde de Salvador, disse que as 155 unidades básicas de saúde de Salvador tornaram-se de referência para Covid-19, sendo que, paralelamente, as equipes de saúde precisaram manter ações estratégicas, como as de acompanhamento de pré-natal, de pacientes crônicos, como hipertensos e diabéticos, marcações de consultas.

“Foi observado nesse período que o esforço político e técnico na criação de barreiras sanitárias e implementação do combate à Covid-19 fez com que algumas ações que já eram estruturais dentro da atenção primária fossem fragilizadas. De fato algumas doenças crônicas foram agudizadas nesse período”, explicou Abdon, observando que o usuário também teve medo de ir ao serviço de saúde.

Algumas ferramentas tecnológicas, como as teleconsultas e a telemedicina, ajudaram a diminuir o problema, segundo o coordenador. Para o pós-pandemia, ele disse que o município tem buscado a maior oferta de serviços de reabilitação e o enfrentamento mais direto acompanhamento de doenças crônicas.

Outra representante da prefeitura de Salvador a contribuir para o debate, a infectologista Adielma Nizarala, da Secretaria de Saúde de Salvador, observou que os serviços de urgência se mantiveram abertos na capital, mas que, ainda assim, foram pouco procurados. “Salvador teve um cuidado muito grande de fazer uma separação das doenças respiratórias das doenças do dia a dia. Nós tínhamos essa preocupação. Mesmo assim, a gente passou a perceber que, com a necessidade do isolamento social, essas pessoas não procuravam o atendimento médico”.

“E, sim, nós tivemos aumento dos óbitos em casa, tanto de pacientes com morte súbita, como cardiopatias, que, por medo, não procuravam o atendimento de emergência, assim como pacientes de doenças crônicas, como os da oncologia, que não procuravam os serviços de tratamento e acabavam falecendo em casa. A Samu chegou a registrar quase três vezes mais óbitos durante o pico de casos da pandemia do que no período normal”, acrescentou.

Ela ainda frisou que, inicialmente, a orientação da OMS, era de que os serviços não prioritários fossem diminuídos para que se somasse forças no combate ao covid-19. “Chega o momento disso ser cobrado, de olhar e ter soluções para dar vasão a todo esse atendimento, não só de tratamento, mas de prevenção”.

Edna Rezende, representante da Diretoria de Vigilância Epidemiológica Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab), iniciou seu discurso explicando que, se o isolamento social era, por um lado, uma medida necessária para o controle da propagação da Covid, ele trazia as questões já citadas pelos outros palestrantes. Ainda acrescentou que, entre os problemas enfrentados, o país ainda foi assolado por fakenews, com um monte de questões relacionadas a medicamentos e outros.

Conforme explicou Edna, durante este período de pandemia, o Estado, além de subsidiar os municípios com informações de enfrentamento à doença, produziu informes correlacionando os óbitos por covid com os de doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), que figuram como comorbidades importantes para agravamento da Covid-19.

Ela frisou ainda que a pandemia elevou o número de casos psiquiátricos e também de suicídios e disse que é preciso ter uma atenção especial a essa questão.

MEDIDAS

O presidente da Comissão de Saúde e Saneamento, deputado Eduardo Alencar (PSD), parabenizou o deputado José de Arimateia pela iniciativa da audiência pública. “Já existia, antes da pandemia, um acúmulo de pacientes que estavam sofrendo e continuam sofrendo com essas doenças crônicas. Tenho certeza que, após essa audiência pública, poderemos marcar as reuniões para discutir e avançar mais ainda para que essa audiência possa surtir efeito e melhorar a vida dos cidadãos brasileiros e da Bahia em particular”.

A deputada Fabíola Mansur, que integra a Comissão, parabenizou os participantes pelo trabalho durante a pandemia e disse que é muito importante que o Colegiado comece a monitorar essas doenças, desde a atenção básica até as que necessitam de cirurgias. Ela também apontou a importância de se retomar as cirurgias eletivas no estado, ainda que o período inspire cuidados, com a chegada variante Delta e a baixa presença das pessoas para tomar a segunda dose da vacina.

Presente à reunião virtualmente, justamente no momento em que estava na fila da vacinação para a segunda dose, a parlamentar disse que era necessário fazer uma divulgação massiva de conscientização para a vacinação e também para que as pessoas voltassem a procurar a assistência médica.

Ela ainda considerou importante a sugestão do Dr. Luís Passos, para se monitorar a cardiopatia reumática e também disse que era preciso discutir as ações para a síndrome pós-covid. “Quero sugerir isso como audiência pública, pois tivemos muitos pacientes que ficaram com sequelas. E dizer que essas doenças crônicas não transmissíveis, que ficaram represadas, a gente deve ter um olhar mais cuidadoso para elas”.

O deputado José de Arimateia também concordou com a sugestão de audiências públicas para tratar da cardiopatia reumática e também sobre a síndrome pós-covid. Ele disse ainda que enviará uma indicação ao prefeito de Salvador, Bruno Reis, sugerindo a criação de um Centro de Tratamento pós-covid na capital, aos moldes do que foi inaugurado em Feira de Santana.

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