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ABI Nacional repudia censura imposta pelo ministro do STF Alexandre de Moraes contra o site O Antagonista e a revista Crusoé

 

 Associação Brasileira de Imprensa repele a decisão do Ministro Alexandre Moraes que colocou a Revista Crusoé e o site Antagonista sob censura, ofendendo preceitos da nossa Carta Maior. A determinação de suspender a matéria intitulada “O amigo do amigo de meu pai”, e as postagens que envolvem o mesmo assunto expõe o caráter autoritário de uma portaria interna do próprio Supremo destituída de base legal.

Nesta   segunda-feira (15/04/2019), a Associação Brasileira de Imprensa (ABI Nacional) criticou severamente a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes contra a liberdade de imprensa, ao prolatar censura contra o site de notícias O Antagonista e a revista Crusoé.

Além da ABI Nacional, a censura imposta aos veículos de comunicação pelo ministro do STF despertou profunda crítica de entidades, veículos de comunicação, partidos jornalistas, políticos e juristas.

Veja a Nota na integra 

A Associação Brasileira de Imprensa repele a decisão do Ministro Alexandre Moraes que colocou a Revista Crusoé e o site Antagonista sob censura, ofendendo preceitos da nossa Carta Maior. A determinação de suspender a matéria intitulada “O amigo do amigo de meu pai”, e as postagens que envolvem o mesmo assunto expõe o caráter autoritário de uma portaria interna do próprio Supremo destituída de base legal.

Ao impor a censura a um órgão de imprensa, Sua Excelência extrapolou os limites do próprio Poder Judiciário através de um simples ato regimental. Não pode o Supremo legislar, investigar e julgar em causa própria invadindo outras esferas institucionais.

A decisão contraria a própria portaria na qual se inspirou. O objetivo inicial era coibir a proliferação de Fake News, preservar e resguardar a imagem do STF. O noticiário divulgado pela Crusoé e pelo Antagonista, não pode ser alcançado por essa medida discricionária por denunciar um fato extraído dos autos da Operação Lava Jato.

A ABI espera que o Supremo reveja essa decisão teratológica e restabeleça, com a urgência que o caso requer, o direito à informação e à liberdade de imprensa como determina a lei. Como guardião da Constituição não pode o Supremo advogar em causa própria, criando casuísmos jurídicos que violam princípios e direitos que deveriam ser por ele protegidos de qualquer tipo de ofensa e violação.

Domingos Meirelles, presidente da ABI

Rio de Janeiro, 15 de abril de 2019.

Entenda o caso

Na segunda-feira (15/04/2019), o ministro Alexandre de Moraes determina que Crusoé retire “imediatamente” do ar a reportagem de capa da última edição, intitulada “O amigo do amigo de meu pai”. A decisão é extensiva a O Antagonista.

O ministro determinou, também, que a Polícia Federal intime os responsáveis pela publicação da reportagem “para que prestem depoimentos no prazo de 72 horas”.

O ministro afirma haver “claro abuso no conteúdo da matéria veiculada”.

A reportagem de que trata a decisão do ministro foi publicada com base em um documento que consta dos autos da Operação Lava Jato.

Nele, o empreiteiro Marcelo Odebrecht responde a um pedido de esclarecimento feito Polícia Federal, que queria saber a identidade de um personagem que ele cita em um e-mail como “amigo do amigo de meu pai”.

Odebrecht respondeu tratar-se de Dias Toffoli, conforme revelou Crusoé em sua edição de número 50, publicada na última sexta-feira, 12.

No despacho de três páginas, Alexandre de Moraes primeiro menciona o inquérito aberto por Toffoli em março, e dentro do qual a decisão foi tomada: “Trata-se de inquérito instaurado pela Portaria GP No 69, de 14 demarço de 2019, do Excelentíssimo Senhor Ministro Presidente, nos termos do art. 43 do Regimento Interno desta CORTE, para o qual fui designado para condução, considerando a existência de notícias fraudulentas (fake news), denunciações caluniosas, ameaças e infrações revestidas de animus caluniandi, diffamandi ou injuriandi, que atingem a honorabilidade e asegurança do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, de seus membros e familiares, extrapolando a liberdade de expressão”.

Em seguida, ele afirma que ainda na sexta-feira, dia da publicação da reportagem, Dias Toffoli “autorizou” a investigação sobre a reportagem. O ministro reproduz a mensagem que recebeu de Toffoli:

“Exmo Sr Ministro Alexandre de Moraes, Permita-me o uso desse meio para uma formalização, haja vista estar fora do Brasil. Diante de mentiras e ataques e da nota ora divulgada pela PGR que encaminho abaixo, requeiro a V. Exa. Autorizando transformar em termo esta mensagem, adevida apuração das mentiras recém divulgadas por pessoas e sites ignóbeis que querem atingir as instituições brasileiras.”

Toffoli, no pedido para que a reportagem fosse objeto de apuração, alegando tratar de “mentiras” destinadas a atingir as “instituições brasileiras’, se refere a nota oficial divulgada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) dizendo não ter recebido, ainda, cópia do documento enviado à Lava Jato por Marcelo Odebrecht e revelado por Crusoé.

É justamente à nota de Raquel Dodge que Alexandre de Moraes se apega para ordenar a censura, alegando que a reportagem é “um típico exemplo de fake news”.

Diz o ministro:

— “Obviamente, o esclarecimento feito pela PROCURADORIA GERAL DA REPÚBLICA tornam falsas as afirmações veiculadas na matéria “ O amigo do amigo de meu pai”, em típico exemplo de fake news – o que exige a intervenção do Poder Judiciário, pois, repita-se, a plena proteção constitucional da exteriorização da opinião (aspecto positivo) não constitui cláusula de isenção de eventual responsabilidade por publicações injuriosas e difamatórias, que, contudo, deverão ser analisadas sempre a posteriori, jamais como restrição prévia e genérica à liberdade de manifestação.”

Em seguida, observando que “a plena proteção constitucional da exteriorização da opinião (aspecto positivo) não significa a impossibilidade posterior de análise e responsabilização por eventuais informações injuriosas, difamantes, mentirosas e em relação a eventuais danos materiais e morais, pois os direitos à honra, à intimidade, à vida privada e à própria imagem formam a proteção constitucional à dignidade da pessoa humana, salvaguardando um espaço íntimo intransponível por intromissões ilícitas externas”, Alexandre de Moraes passa a decidir.

— “É exatamente o que ocorre na presente hipótese, em que há claro abuso no conteúdo da matéria veiculada, ontem, 12 de abril de 2019, pelo site O Antagonista e Revista Crusoé, intitulada “O amigo do amigo de meu pai. A gravidade das ofensas disparadas ao Presidente deste SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, no teor da matéria, acima mencionada, provocou a atuação da PROCURADORIA GERAL DA REPÚBLICA”, escreve o ministro.

Eis a ordem para que a reportagem seja imediatamente retirada do ar:

— “Em razão do exposto. DETERMINO que o site O Antagonista e a revista Cruzoé (sic) retirem, imediatamente, dos respectivos ambientes virtuais a matéria intitulada “O amigo do amigo de meu pai” e todas as postagens subsequentes que tratem sobre o assunto, sob pena de multa diária de R$ 100.000,00 (cem mil reais), cujo prazo será contado a partir da intimação dos responsáveis. A Polícia Federal deverá intimar os responsáveis pelo site O Antagonista e pela Revista CRUSOÉ para que prestem depoimentos no prazo de 72 horas. Cumpra-se imediatamente. Servirá esta decisão de mandado.”

Segundo o site o Antagonista, a revista Crusoé reitera o teor da reportagem, baseada em documento, e registra qud a decisão se apega a uma nota da Procuradoria Geral da República sobre um detalhe lateral e a utiliza para tratar como “fake news” uma informação absolutamente verídica, que consta dos autos da Lava Jato.

Importa lembrar, ainda, que, embora tenha solicitado providências ao colega Alexandre de Moraes ainda na sexta-feira, o ministro Dias Toffoli não respondeu às perguntas que lhe foram enviadas antes da publicação da reportagem agora censurada.

Jornalista Domingos Meirelles repudia censura imposta pelo ministro Alexandre de Moraes
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