SEC fortalece Educação Indígena com formação de estudantes em Santa Cruz Cabrália
Através de cânticos entoados com a língua mãe do povo Pataxó, a Patxohã, trezes indígenas realizaram um sonho: ser as primeiras pessoas a concluírem o Ensino Médio na escola da Aldeia Juerana, em Santa Cruz Cabrália. A unidade de ensino, que é um anexo do Colégio Estadual Indígena de Coroa Vermelha, preserva as tradições, propiciando aos estudantes um olhar de mundo analisado e interpretado sob a ótica da ancestralidade de seu povo. A cerimônia, realizada neste sábado (18), contou com líderes indígenas, comunidade escolar, representantes da Secretaria da Educação do Estado (SEC) e autoridades locais.
De acordo com o subsecretário da Educação do Estado, Danilo Melo, que representou o secretário Jerônimo Rodrigues, a Educação Indígena é fundamental para oferecer aos estudantes possibilidades de ressignificar e interpretar todas as manifestações acadêmicas através da ótica e saberes tradicionais de cada povo. “Presenciamos aqui um momento emocionante e único. Estamos diante de guerreiras que nos oferecem um grande exemplo de dignidade humana, organização e resistência. São mulheres que guardam seu sagrado com muito zelo. As comunidades indígenas mostram soluções para o Brasil e um deles é mostrar a necessidade de trilharmos a humanização da nossa sociedade, aprofundando a interlocução com a natureza. Precisamos pensar em um desenvolvimento voltado para o bem estar das pessoas, para atender os povos que habitam os espaços”.
Raiane Araújo, 18, é filha de uma das formandas, a artesã Neusa Araújo. Para ela a conquista da mãe é uma vitória para toda a comunidade. “Estou muito orgulhosa dela. Minha mãe não pôde concluir o estudo na idade adequada por conta de muitas adversidades, mas ela agarrou essa oportunidade de ter uma escola aqui na aldeia e conseguiu com muita persistência concluir seus estudos. Lembro que ela sempre levou tudo a sério, frequentava as aulas e fazia as atividades e não pensou em desistir. Isso inspira e emociona a todas nós”. Emocionada, dona Neusa, 45, relata que o momento foi de superação. “Para mim, é uma honra. Estou realizando um sonho que foi interrompido há muito anos. Consegui voltar a estudar e estou alegre não só por mim, mas por todas as minhas colegas é um ganho para minha família e também para a aldeia”.
Para Kãtara Pataxó, liderança indígena, a concretização dos sonhos dessas 13 estudantes demonstra resistência de um povo. “São mulheres que enfrentaram desafios, entre outros o machismo, que não permitia a conclusão dos estudos. Então, essa formação para nós, como mulheres e como povo, possui um significado que não conseguimos mensurar a importância em palavras. É um momento carregado de emoção, mas também para demonstrarmos e falarmos que estamos aqui, resistindo. A educação tem um poder transformador na vida de qualquer cidadão, e concluir o ensino médio para elas é um avanço muito grande”.
Ainda no município de Santa Cruz Cabrália, foi lançado, no Colégio Estadual Indígena de Coroa Vermelha, o documentário Memórias e Saberes: Escolas Indígenas da Bahia, realizado pela produtora Ajayô Filmes, com a direção de Chico Soares. O curta mostra a trajetória para a construção das diretrizes curriculares da educação escolar indígena no estado, que tem experiências nas regiões de Paulo Afonso, Ilhéus e Santa Cruz de Cabrália. O documentário será exibido na TVE Bahia, neste domingo (19), às 16h.