Reino Unido adota droga contra artrite para tratar casos graves de Covid-19
Um medicamento para artrite passará a ser usado pelo Reino Unido no tratamento de casos graves de Covid-19, após resultados preliminares indicarem que ele reduz o tempo de internação em UTI e ajuda a evitar mortes.
A droga, tocilizumabe, já está disponível nos hospitais e começará a ser aplicada a partir de hoje. Ela foi adicionada à lista de restrições de exportação do governo, que proíbe empresas de comprar medicamentos destinados a pacientes do Reino Unido e vendê-los por um preço mais alto em outro país.
Além do tocilizumabe, outra droga usada em casos de artrite, o sarilumab, teve resultados positivos no estudo publicado pelo projeto britânico Remap-Cap e exportação proibida pelo governo americano. Os testes randomizados acompanharam 800 doentes graves de Covid-19 em hospitais do sistema de saúde público do Reino Unido, a partir de março de 2019.
Os resultados indicam que as drogas reduziram em 24% o risco de morte, quando usadas 24 horas após a internação em UTI. Com mais de 78 mil mortes por Covid-19, o Reino Unido é hoje o país com maior número absoluto de mortes na Europa desde o começo da pandemia, e suas quatro nações –Inglaterra, Escócia, Gales e Irlanda do Norte– decretaram confinamento para conter contágios acelerados.
Em entrevista sobre o estudo, o diretor de bioestatística da Premier Research, Adam Jacobs, ressaltou que os resultados ainda não foram revisados por pares e, por isso, devem ser vistos com cautela. Apesar desse limite, o trabalho tem “qualidade muito superior a muitos artigos não revisados por pares”, na avaliação de outro comentador, o professor de farmacoepidemilogia da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres Stepehn Evans.
Médicos e cientistas que leram o artigo ressaltaram o fato de que os pacientes do estudo já estavam sendo tratados com o corticosteróide dexametasona, cujo efeito na redução da mortalidade foi mostrado em estudos anteriores, o que revela um benefício adicional das duas novas drogas.
“Essa melhoria incremental pode fazer uma grande diferença se continuarmos a acumular mais opções à medida que mais testes são feitos”, disse Jacobs. “Se estivesse em terapia intensiva com Covid, definitivamente gostaria que meus médicos me dessem tocilizumabe agora que li este artigo”, afirmou.
Os resultados, segundo ele, indicam resultados melhores para o sarilumabe –a mortalidade hospitalar foi de 22% para essa droga, 28% para o tocilizumab e 36% para o chamado grupo controle, que recebeu placebo. Mas a amostra para o sarilumabe era pequena, ressalta ele, o que mostra a importância da revisão por pares.
No caso do tocilizumabe, os dados mostram que, de 100 pacientes em tratamento intensivo com infecção por Covid, a administração da droga permitiria que oito sobrevivessem além do que seria esperado sem o remédio. Isso significa que uma vida extra seria salva a cada 12 pacientes, segundo um dos coordenadores do estudo, o professor de anestesia e cuidados intensivos do Imperial College, Anthony Gordon.
“A magnitude do efeito do tocilizumabe não o torna uma cura milagrosa, mas certamente é suficiente para indicá-lo como útil”, diz Jacobs. O cientista alerta, porém, que os resultados valem apenas para pacientes em terapia intensiva e não podem ser generalizados. “Ninguém deve achar que pode se tratar de Covid-19 com tocilizumabe em casa.”
De acordo com Martin Landray, professor de medicina e epidemiologia da Universidade de Oxford, ainda é preciso responder se o medicamento pode reduzir a necessidade de os pacientes terem que ser submetidos a ventilação mecânica, caso seja administrado mais cedo. A mesma preocupação foi expressa por Cammack, para quem governos precisam investir em ensaios clínicos em grande escala para encontrar tratamentos que possam prevenir que os sintomas leves se tornem mais graves.
O estudo de larga escala Recovery, que tem mais de 2.800 pacientes para a avaliação do tocilizumabe, deve ajudar a responder às perguntas em aberto, segundo Landray. “Mas o Remap-Cap injetou aquele otimismo de que todos precisamos.”
Ainda que os dados do Remap-Cap sejam corroborados por estudos adicionais, “é preciso deixar claro que não são uma cura mágica”, afirmou o professor de farmacologia clínica da Universidade de Birmingham, Robin Ferner. “De 401 pacientes que receberam as drogas, 109 morreram”, aponta o médico. Além disso, são drogas bem mais caras que a dexametasona, que já demonstrou impacto na redução da mortalidade.
Mas há um efeito indireto positivo da adoção do tratamento, de acordo com o líder do programa de aceleração terapêutica de Covid-19 da Wellcome, Nick Cammack. Pacientes que receberam as drogas deixaram as UTIs em de 7 a 10 dias antes, o que “alivia significativamente a pressão sobre os sistemas de saúde sobrecarregados”.
“À medida que as hospitalizações e mortes causadas pela Covid-19 disparam no Reino Unido e as novas cepas tornam a pandemia mais desafiadora, encontrar tratamentos eficazes é mais urgente do que nunca”, disse Cammac.
Fonte:bahia noticias