Política

Colegiado discute em e audiência pública os impactos socioeconômicos da COVID-19

A Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA) debateu, na manhã desta quarta-feira (17), por meio da Comissão Especial para Avaliação dos Impactos da Pandemia da Covid-19, os impactos socioeconômicos da crise sanitária. A audiência pública, a terceira já realizada pelo colegiado, teve como palestrante a mestre e doutora Luciana Guerra Gallo, pesquisadora na área de epidemiologia e controle de doenças infecciosas e parasitárias.
 
Durante o encontro virtual, realizado pela plataforma Zoom, foram discutidos os reflexos e custos da pandemia no sistema público de saúde e nas famílias. Em sua apresentação, a médica Luciana Gallo expôs dados da sua pesquisa, que integra o seu curso de pós-doutorado, e mostrou os impactos da covid-19 na vida de 206 pacientes do Hospital Universitário de Brasília (HUB). Logo de início, a profissional de saúde alertou para a máxima que diz: “A covid-19 atinge a todos igualmente”. Para a pesquisadora, tal afirmação amplamente difundida se trata de “uma falácia”, uma vez que os impactos dependem de fatores como sexo, idade, raça, cor, estado socioeconômico, dentre outros.
 
“São diversas realidades existentes e que podem impactar a todos, mas os impactos não são iguais para todos”, reforçou. Luciana Gallo explicou que seu estudo envolvendo os 206 pacientes do HUB até janeiro deste ano envolveu pessoas de 19 a 98 anos de idade. Dentre os casos estudados, os óbitos ocorreram em pessoas com idade média de 65 anos, e desse recorte 59% são negros. Quando se trata da análise no quesito sexo, a pesquisa mostrou que 58% das mortes aconteceram com homens. Ao avaliar o grau de instrução dos pacientes, o estudo indicou o seguinte percentual: 12% não possui escolaridade, 41% tem o ensino fundamental, e 33,7% havia concluído o ensino médio.
 
A pesquisadora indicou ainda que, para o paciente, ter ficado doente implicou custos para a família (medicamentos, exames), para o sistema de Saúde (medicamentos, leitos, oxigênio, fisioterapia) e para a sociedade (óbitos precoces, absenteísmo ao trabalho). Já a pandemia gerou custos também para as famílias (máscaras, álcool em gel, eletricidade, computador), para o sistema da saúde (vacinas, outras doenças sendo negligenciadas, programa de controle) e sociedade (desemprego, inflação, redução do turismo).
 
No caso em estudo no HUB, Luciana Gallo afirma que os pacientes que declararam ter custos na alimentação durante o internamento desembolsaram algo entre R$ 15 e R$ 45. “Do total, 23% dos pacientes gastaram com alimentação, enquanto 36% dos acompanhantes também gastaram com alimentação. Quando o assunto foi transporte, 95% dos entrevistados afirmaram ter feito uso de algum meio para se deslocar”, listou a palestrante.
 
O estudo avaliou ainda o impacto da covid-19 na vida profissional dos pacientes. A pesquisa mostrou que 81% dos internados do HUB estavam trabalhando e precisaram se afastar. Entretanto, desse total, 74% não contribuíam para a Previdência Social. Em média, estas pessoas ficaram 23 dias afastados das atividades laborais. Dentre os indivíduos abordados, somente dois deles receberam assistência financeira durante os dias em que estiveram afastados. Quanto aos acompanhantes, 30% dos entrevistados informaram que tiveram que se afastar do trabalho.
 
De modo geral, a palestrante aponta para uma grande pressão sobre o Sistema Único de Saúde (SUS) por causa da crise sanitária. Entre os fatores que contribuíram para a elevação dos gastos da rede pública estão: internações, medicamentos, profissionais de saúde, insumos hospitalares, lavanderia, limpeza, nutrição, fisioterapia, terapia ocupacional, aparelho para videochamada, exames, entre outros. “Tem um monte de custos que vem associado e a gente não lembra muito, e tudo isso representa um valor exorbitante”, destacou a médica. Ainda na avaliação de Luciana Gallo, a pandemia agravou o desemprego entre mulheres e aumentou desigualdade de gênero. De igual forma, ela alerta para o aumento do número de pessoas em situação de rua.
 
Após assistir a apresentação da convidada, o deputado Angelo Almeida (PSB), presidente da Comissão Especial para Avaliação dos Impactos da Pandemia da Covid-19, afirmou que o cenário mostrado no encontro ajudou a esclarecer “muita coisa que foge do nosso alcance nessa turbulência que estamos vivendo”. “Está claro que o Brasil é um país profundamente desigual, e a pandemia, em um país como o nosso, agrava ainda mais”, lamentou.
 
Almeida relatou que participou, nesta terça-feira (16), de uma reunião com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), ocasião em que sugeriu ao órgão que oriente o Ministério da Saúde a elaborar uma grande campanha de comunicação reforçando os cuidados que se deve ter para evitar o contágio da covid-19. “A informação é muito importante para que a gente possa fugir desse caos. As pessoas, por exemplo, estão banalizando o uso da máscara”, apontou o deputado.
 
Ao dar sequência à audiência pública, o presidente do colegiado cedeu a palavra a Reonei Menezes. Em nome do Sindicato da Polícia Civil, o participante pediu apoio do parlamentar para que o governo baiano coloque os policiais na lista de prioridade para vacinação. Segundo Angelo Almeida, o secretário estadual da Saúde, Fábio Vilas Boas, informou que a categoria será vacinada tão logo cheguem as vacinas da Sputnik V. 
 
O presidente do Conselho Estadual de Educação, Paulo Gabriel, manifestou sua preocupação com os impactos da pandemia na educação brasileira. Ele acredita que a crise aprofundará ainda mais a desigualdade social. “Os dados da pesquisadora demonstram o tamanho do nosso desafio. Teremos um processo duro de retorno às aulas e creio que o fosso da desigualdade aumentou como consequência da pandemia. Praticamente, as escolas públicas brasileiras não funcionaram, enquanto as particulares tiveram continuidade no funcionamento”, externou.
 
A deputada Fabíola Mansur (PSB), presidente da Comissão de Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia e Serviço Público na ALBA, disse que a educação tem sido afetada com efeitos devastadores. Para a socialista, na Bahia, há uma luz no fim do túnel com a retomada das aulas de forma remota. “Mesmo que a gente evolua para o sistema híbrido com o arrefecimento da pandemia, os impactos na educação são gigantes”, ressaltou.
 
Servidora pública do município de Salvador, a participante Edna Maria disse enxergar uma lentidão na transparência dos dados envolvendo os impactos da pandemia entre os servidores públicos municipais, como número de infectados e de óbitos na capital. Ela também levantou a possibilidade de ter pacientes renais incluídos na lista de prioridade para vacinação. 
 
Presidente da Fundação Luís Eduardo Magalhães (FLEM), Rodrigo Hita pediu a opinião da palestrante a respeito do tempo de resposta da Anvisa em casos de aprovação de uso emergencial de vacinas. Segundo Luciana Gallo, a agência nacional tem sido ágil quando comparada ao ritmo normal de tramitação de pedidos. “Sei que é difícil acreditar nisso quando estamos desesperados por algo, mas eles estão sendo muito mais rápidos do que antes. Estão ampliando os esforços para dar uma resposta de maneira rápida. Só que nunca vai ser tão rápida para responder na velocidade 
que pedem nossos anseios”, contextualizou.
 
Assessora parlamentar, a participante Loize quis saber se a pesquisa havia abordado os impactos da pandemia nas famílias de baixa renda, que geralmente sobrevivem com um salário-mínimo. A médica Luciana Gallo explicou que esse cenário está sendo estudado, mas ainda não foi concluído. Com temática semelhante, a deputada Fátima Nunes (PT) manifestou preocupação com trabalhadores e trabalhadoras que desempenham funções como diaristas, domésticas, porteiros, agentes de limpeza, funcionários de administração, grupo que atua, em sua maioria, em condomínios, e recebem um salário mínimo ou dois. Com a pandemia, muitos destes trabalhadores tiveram que ficar em casa. “Como é que estas pessoas estão vivendo? Muitas vezes, era com aquele salário mínimo, no máximo dois, que as pessoas levavam a comida para casa. Esse aprofundamento cruel do desemprego é uma tragédia”, afirmou a parlamentar.
 
A pesquisadora lembrou que, além da perda de renda enfrentada pelos trabalhadores, houve aumento nos preços de diversos itens da alimentação básica. “Quem é que pode ficar em casa? Alguns profissionais conseguem trabalhar de casa, mas há funções que acontecem na rua. E se você ficar em casa, não há entrada de renda. Falta a entrada de renda com o desemprego e há o aumento da saída de recursos com o reajuste nos preços de itens de consumo. Isso pode gerar uma bola de neve enorme”, alertou a especialista.
 
Ao encerrar a audiência pública após duas horas de discussão, o deputado Angelo Almeida agradeceu a presença de todos os participantes e dirigiu agradecimentos especiais ao presidente da ALBA, Adolfo Menezes (PSD), pelo apoio aos trabalhos da comissão especial. Também acompanharam o evento a deputada Mirela Macedo (PSD) e o deputado Jacó (PT), além de Carlos Andrade, presidente da Fecomércio Bahia. 
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